No século I d.C. estabeleceu-se na Herdade da Comenda uma propriedade de tipo villa, com pars urbana, rustica e fructuaria que ocupou ambas as margens da Ribeira da Ajuda ou do Aravil.
Conhecem-se hoje estruturas de carácter doméstico, o possível hipocausto e uma das piscinas de um edifício termal, uma barragem com canais para condução de água, entre outras estruturas arqueológicas por determinar em futuros trabalhos de escavação. Junto à ribeira podem ainda ser observados tanques de salga de fábricas destinadas à produção de preparados piscícolas, molhos e salgas de peixe, que garantiam a autossuficiência desta villa para além do domínio agrícola, bem como a produção de excedentes para venda, aproveitando o que de melhor a região teria para oferecer na abundância do peixe e sal existente no Atlântico e no estuário do Sado até Alcácer do Sal.
A ocupação ter-se-á prolongado até ao período tardo-antigo, com materiais que documentam grande capacidade comercial com regiões longínquas como o Norte de África.
Ana Patrícia Magalhães
CECH – Universidade de Coimbra

Sabia que o Baixo Vale do Sado foi em época romana uma das regiões económicas mais importantes da Lusitânia?
As boas condições de acessibilidade e de navegação, bem como o potencial de recursos naturais, sobretudo, os de origem marinha, atraíram desde cedo a ocupação romana para as margens do estuário do Sado.
Ilustração de César Figueiredo

A Comenda Romana
A Comenda romana e a vizinha Gávea são o espelho do ideal de cidadania romana em villae, que combinavam o negócio da exploração agrícola e dos recursos marinhos com o deleite proporcionado pela vida no campo.
Ilustração de César Figueiredo

Puxar a brasa à nossa sardinha!
As conservas portuguesas fazem parte de uma longa herança de tradição romana, com o expoente máximo nas fábricas de salga. Na Comenda romana haveria diferentes espaços destinados à confeção de salgas e molhos, entre os quais, o famoso garum, utilizando preferencialmente a sardinha, que ainda hoje é o peixe mais apreciado na região.
Ilustração de César Figueiredo

Estrutura semicircular que poderia pertencer a uma piscina do edifício termal
Fotogrametria de Miguel Martins, CHTC – CEF, Univ. Coimbra.

Vista da base de um tanque de salga em 2021
Fotografia de Elisabete Barradas, AFA - Arqueologia e Formação Aplicada.