História Geral

História

A Herdade da Comenda de Mouguelas é um local de admirável beleza, único em Portugal. Quer pelo seu extraordinário enquadramento natural – uma vez que tem como cenário a Serra da Arrábida e aos seus pés a confluência do rio Sado com o oceano Atlântico – quer pela arquitetura de leveza exuberante do seu palácio, projetado pelo prestigiado arquiteto Raul Lino.

Lugar de posicionamento privilegiado, foi procurado pelo homem ao longo dos séculos, pois aí era possível obter água, alimento, proteção e outros recursos naturais. Fatores que potenciaram a sua utilização de diferentes formas: indústria de salga de peixe, exploração agropecuária, local de culto, fortificação de defesa da costa e espaço de lazer.

Nas terras que constituem a propriedade é possível encontrar vestígios da presença humana que remontam ao Neolítico e ao Período Romano, muito antes da formação de Portugal. A viagem no tempo que podemos fazer através da Comenda passa depois pela Idade Média e pela Época Moderna, associada à história da Ordem Militar de Santiago da Espada, de onde lhe provém o nome. Nos seus tempos áureos, entre os séculos XV e XVI, por ela passaram personagens de relevância nacional e internacional como Vasco da Gama e os reis de Portugal D. Afonso V e D. Manuel I.

Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, e a nacionalização dos seus bens e posterior venda, a história da Comenda iria enveredar por um outro caminho, pois tornou-se património do Estado e foi, posteriormente, vendida a um particular. Em mãos privadas, foi passando sucessivamente por diferentes proprietários, onde se incluem o Conde e diplomata francês Ernest Armand, a partir de 1872. Será então na posse da família Armand, e o sob o traço do arquiteto Raul Lino, que a Comenda verá nascer, a partir de 1903, a casa hoje existente, a qual, pela sua feição distinta e magnífica, se designou de palácio.

As vicissitudes do tempo fizeram com que o Palácio da Comenda ficasse ao abandono, o que possibilitou a sua degradação e que fosse vandalizado e despojado de alguns elementos decorativos, nomeadamente da maioria dos seus painéis azulejares.

Todavia, no final de 2019 chegou o momento em que a Herdade da Comenda começou a renascer após a aquisição pela empresa Palácio da Comenda SA cujo interesse pela história deste território determinou o estudo da sua história milenar e a promoção de um centro interpretativo sobre este mesmo espaço.

Sécs. I-VI

- Estabelecimento do tipo villa com a presença de uma estrutura que poderia ser um hipocausto de um edifício termal romano.

- Presença de tanques de salga que confirmam a produção de preparados piscícolas na foz da Ribeira da Ajuda ou do Aravil, molhos e salgas de peixe, que passavam por um período de fermentação que poderia durar vários meses e seriam consumidos localmente e exportados.

- Barragem (presa do Pinheiro) e canal de condução de água.

- Estruturas de carácter doméstico com contextos materiais tardo-antigos.

Sécs. VIII-XII

- Supõe-se que na zona correspondente à Comenda de Mouguelas, existiu um Ribat. Tratava-se de um tipo de estrutura que podemos designar por “mosteiro-de-guerra”. Aí se congregavam para a meditação e progresso místico interior aqueles que desejavam encontrar Allah/Deus, mas também para servir a jihad (guerra santa) de defesa e expansão do Islão. Estas “estruturas” podiam ser simplesmente grutas naturais ou escavadas, congregadas junto de alguma estrutura assumida como central. No período islâmico existiam na Península de Setúbal três ou quatro rabita – uma debruçada sobre o Tejo, junto a Al Madan/Almada; outra na Serra com o mesmo nome; outra em pleno estuário do Sado, no início do canal que leva a Al Qasr/Alcácer; e outra, provavelmente, na zona correspondente à Comenda de Mouguelas, e que defendia a entrada do Wadi Xetubar/Sado e um vale interior da Serra da Arrábida, a Poente de Setúbal, então ainda navegável até certa distância. 

Sécs. I-XII A Comenda antes da formação de Portugal

1172

- Pouco depois da sua criação em Espanha a Ordem de Santiago estabeleceu-se também em Portugal por volta de 1172, onde, depois de resistir aos ataques almóadas daquele ano, beneficiou de várias doações por parte do primeiro rei, D. Afonso Henriques: os castelos de Monsanto (perto de Idanha) e de Abrantes, em 1172; a vila de Arruda, também em 1172; e a vila de Abrantes, em 1173/1174.


Entre 1242 e 1275

- Em data desconhecida, entre 1242 e 1275, D. Paio Peres Correia, mestre geral da Ordem de Santiago, fez doação de bens no termo de Palmela, no sítio chamado as “Cimas das Várzea do Galvão”, a Domingos Martins de Mouguelas. Na época a propriedade era um assentamento de cariz agrícola, que já possuía vinhas e olivais que rendiam 400 libras.

1290

- Por volta de 1290, Pedro Salgado, o segundo tesoureiro-mor do rei D. Dinis, recebeu, do mestre geral da Ordem, o “fortellicium e locun” de Mouguelas, ou seja, a “fortaleza e lugar”, dos quais usufruiria em dias de sua vida.


1318

- Existência de um “fortellicium, in turri” em Mouguelas, ou seja, de uma fortaleza em torre, ou torre-fortaleza.

- Já deveria existir um local de culto cristão que seria, mais tarde, a sede paroquial de Nossa Senhora da Ajuda.

1343

- A comenda de Mouguelas deixou de pertencer ao termo de Palmela, nos limites respeitantes à jurisdição de Santa Maria daquela vila, e passou a fazer parte do termo de Setúbal.


- A igreja existente deverá ter passado para a jurisdição de São Julião de Setúbal sob a qual se encontrava em 1552.


- A torre/fortaleza de Mouguelas ficou a constituir um importante posto de defesa e vigia do porto de Setúbal.

1458

- O rei D. Afonso V permaneceu em Mouguelas, ou por ela terá passado, de 28 a 30 de setembro com uma armada de 93 navios, aguardando bom tempo para partir para a expedição de Alcácer Ceguer.

1506

- O rei D. Manuel I convocou, para o dia 4 de maio, para uma reunião em Mouguelas, os oficiais da câmara de Lisboa e os quatro procuradores da Casa dos Vinte e Quatro.

1534

- Data de 1534, a referência documental efetiva, mais antiga, à igreja de Nossa Senhora da Ajuda, que é citada como estando junto da comenda de Mouguelas. Mas também se diz que Vasco da Gama, quando regressou da Índia (1499), junto dela, da parte do sul, tinha mandado fazer uma capela, o que atesta a sua maior antiguidade.  Esta informação também dá sustentação à tese de que, provavelmente, já desde os séculos XIII/XIV deveria existir na comenda um local de culto.

1680

- Cerca de 1680 terá sido construído em Mouguelas um forte designado de forte de São João ou de Nossa Senhora da Ajuda.

- Como testemunho restante dessa antiga edificação - já desaparecida no século XIX - na parede exterior do palácio da Comenda, na fachada NE, ainda hoje se conserva uma placa de mármore com uma inscrição, com a história abreviada da fortaleza referida.

Sécs. XII - XVIII A Comenda da Ordem de Santiago da Espada

1834

- Em 1834, na sequência da Revolução Liberal de 1820, foram extintas as ordens religiosas, incluindo as ordens militares (tal como a ordem de Santiago da Espada) e os seus bens foram nacionalizados.

1850

- Em meados do século XIX iniciou-se a degradação da igreja de Nossa Senhora da Ajuda. A 1 de Junho de 1845 aí se efetuou o último batismo. E a 19 de outubro de 1850 a freguesia foi extinta e integrada na freguesia de Nossa Senhora da Anunciada. Terá sido, provavelmente, nessa data que a imagem de Nossa Senhora da Ajuda foi levada para a igreja de Nossa Senhora da Anunciada, onde hoje se encontra.

1857

- Agostinho Rodrigues Albino foi o primeiro proprietário particular da Comenda após a venda pelo Estado. Não foi possível identificar a data exata de compra da Comenda por aquele particular, mas sabemos que em 1861 já lhe pertencia. Calculamos que a aquisição tenha sido feita, talvez, em 1857. Aquele era um rico proprietário, comerciante e agente do antigo monopólio do tabaco e tinha também influência no cenário político da localidade, tendo sido presidente da câmara de Setúbal.

1872

- O Conde Ernest Armand comprou a Comenda, três casais anexos (da Estrada, Cruz e Ajuda) e os domínios diretos dos foros impostos nas quatro glebas que pertenciam ao mesmo prédio (moinho do Pinheirinho, moinho da Ameijoa, moinho do Cabeço e moinho do Nico). Comprou também a igreja de Nossa Senhora da Ajuda, que transformou em adega, e a ermida de São Brás.

- Existia na Comenda uma casa de grande dimensão que seria usada nos finais de semana.

1903

- O projeto de uma nova casa para a Herdade da Comenda foi encomendado ao jovem arquiteto Raul Lino, pelo conde Abel Henri Georges Armand. 

1908

- O Palácio da Comenda já estava concluído, faltando apenas alguns acabamentos, nomeadamente os painéis de azulejos exteriores que foi recebendo a partir desta data. 

1919

- O Conde Roger Ernest Marie Joseph Armand herdou a propriedade juntamente com a mãe e os irmãos. O novo proprietário teve como objetivo preservar a riqueza da flora, através da construção de um grande parque, no qual, além de manter as espécies existentes mandou plantar outras novas. 

 

 

1965

- Em julho de 1965 Jaqueline Kennedy e a Princesa Lee Radziwill, sua irmã, ficaram hospedadas durante uma temporada no Palácio da Comenda. Aqui se refugiou Jaqueline após o assassinato do marido, o presidente dos Estados Unidos da América John Kennedy. A Princesa desfrutou da praia e passeou num barco de recreio pelo rio Sado. 

Final da década de 80 do século XX

- Após a morte do Conde Roger Ernest, em 1981, a propriedade foi adquirida pelo urbanizador António Xavier de Lima. Este introduziu uma série de alterações na casa que tinha sido projetada por Raul Lino e que havia perdurado intacta até aí. 


2009

- Com a morte de António Xavier de Lima a propriedade passou para a posse dos seus herdeiros. Seguiu-se um período de abandono, o que potenciou a sua degradação e ações de vandalismo sobre a casa.


Sécs. XIX - XX A Comenda da Família Armand

2019

- A partir de 2019 a empresa Palácio da Comenda SA promoveu o restauro e a requalificação do Palácio da Comenda e de toda a propriedade envolvente.

Séc. XXI A Comenda requalificada

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