O arquiteto Raul Lino

O arquiteto Raul Lino

Raul Lino da Silva nasceu em Lisboa em 1879 e morreu na mesma cidade em 1974. Um dos mais prolíferos artistas portugueses, durante a sua longa vida, com 70 anos de produção artística sem interrupção, assinou mais de 700 projetos arquitetónicos, entre eles o da casa da Comenda. Este foi mesmo um dos seus primeiros trabalhos, ainda na primeira década do século XX.

Em 1890, com apenas 10 anos de idade, Lino viajou para Inglaterra onde frequentou o Saint James Roman Catholic School, nos arredores de Windsor. Permaneceu durante três anos em Inglaterra, transferindo-se depois para a Alemanha, com o objetivo de estudar a língua e de cursar arquitetura.

Em Hanôver, Raul Lino frequentou uma escola de artes e ofícios (Handwerker und Kunstgewerbeschule), onde se dava especial importância à carpintaria e estudo de móveis, assistindo também a aulas teóricas no Instituto Superior Técnico (Technische Hochschule). Simultaneamente, praticou no atelier do Professor Arquiteto Albrecht Haupt, estudioso da arquitetura portuguesa dos séculos XIII ao XVII, experiência esta que estruturou, quer o seu perfil profissional, quer a sua própria personalidade.

Em 1897, com apenas 17 anos Lino regressou a Portugal. Vinha, então, determinado a reagir contra a corrente de estrangeirismo que há muito invadira o país.

Da sua estadia no Reino Unido e na Alemanha trouxe novos conceitos, admiravelmente reinterpretados com referências culturais portuguesas. Para tal foram também fundamentais as viagens que efetuou, ainda nos finais do século XIX de norte a sul de Portugal, em particular pelo Alentejo, aprofundando, dessa forma, o conhecimento das próprias raízes. Na sua própria abordagem da arquitetura foi também determinante a deslocação que fez a Marrocos, em 1902.
Raul Lino manifesta-se no aprofundamento de um carácter nacional para a arquitetura. Criticando estrangeirismos em Portugal, defendeu, com projetos em estilo nacional, a recuperação do bom gosto tradicional. Efetivamente, logo nas primeiras casas de habitação que planeou, o arquiteto deixou presente o respeito histórico pela tradição e também a integração das casas que projetava na paisagem, como se constata em diferentes projetos, de que é exemplo o da casa da Quinta da Comenda.

É a partir do início do século XX que Raul Lino projeta as primeiras casas destacando-se, entre as mais emblemáticas, a Casa Monsalvat (1901), a Casa de Santa Maria (1902), a Casa Silva Gomes (1902), a Vila Tânger (1903) e a Casa dos Patudos (1904). Igualmente o projeto inicial da casa da Comenda data de 1903.

“Como digo sempre, as obras de arquitectura são o produto de um consórcio entre o arquitecto e a entidade que as encomenda. Se se entendem bem, a criação sai escorreita; quando não há entendimento, o resultado é defeituoso se não mesmo aleijado. O que se passou com a casa da Comenda é elucidativo. Julgo que nenhum caso como este se me apresentou. O Conde Armand, proprietário da quinta, era um cliente como havia poucos. Homem de grandes negócios com minas no Chile, mas vivendo em Paris, este francês era muito distinto porque aliava uma notável cultura à mais modesta apresentação que se possa imaginar. Vinha todos os anos para a primitiva casa, que era então a do feitor e passava ali temporadas de repouso naquele isolamento dedicando grande parte do seu tempo a ler clássicos da Antiguidade. Este homem, que devia andar pela casa dos 40, procurou-me um dia em Lisboa e disse-me ao que vinha, explicando um programa geral do que pretendia. O que me surpreendeu foi dizer-me que não desejava que eu fizesse um só traço do projecto sem ter primeiro gozado uma noite de luar no sítio onde tencionava fazer a sua casa. Para tanto, consultou o calendário das luas e combinou comigo o dia em que eu iria visitar a quinta para ficar lá mesmo uma noite toda. Assim foi e ali passei de um dia para o outro na modesta casa do feitor, onde também estava o seu administrador e secretário, para eu ter ocasião de ver o que era aquela paisagem numa noite de lua cheia! – O resultado lá está; e percebe-se, no todo, o gosto académico e meridional que agradava àquele francês civilizado”

Raul Lino, “Raul Lino visto por ele próprio”, Vida Mundial, Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, n.º 1589, 21 de novembro de 1969, p. 31

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